De bem com a vida financeira

Autor: Pr. José Luiz Kollenberg

Apresento ao leitor da página “de bem com a vida” o Economista Jairo Köhn, residente em Curitiba–PR. Que em duas edições teremos a colaboração e apoio deste profissional. Assim segue a primeira parte de sua matéria: “DE BEM COM A VIDA FINANCEIRA.”.

Quando se fala em finanças, a sensação geralmente é de que 9 em 10 brasileiros passa por apuros nesta área. Basta falar com quem estiver por perto sobre o assunto. Mas você alguma vez já parou para pensar nos motivos pelos quais tantas pessoas tem dificuldades na vida financeira? Gostaria de te convidar a avaliar alguns aspectos da relação das pessoas com as finanças na edição deste mês da revista O Mensageiro.

O presidente da republica dizia na campanha para sua primeira eleição que o orçamento da união é como uma caixa d’água, onde as receitas são a entrada de água e os gastos são a saída, quando se abre a torneira – o saldo é o que sobra na caixa no fim do período. E a coisa é assim mesmo, simples desse jeito, “simples que dói”. No orçamento familiar e das empresas também é assim. Mas se na teoria é tão simples, por que na prática é tão difícil?

Os problemas financeiros sempre se relacionam com alguns aspectos que na maioria das vezes não percebemos, não são claros e evidentes. Isso acontece porque nós lidamos com o dinheiro conforme aspectos Bio – Psico – Sociais. Nós lidamos com o dinheiro da mesma forma que lidamos com as nossas emoções.

Os aspectos biológicos são relacionados à herança genética que recebemos das nossas famílias. Ao casar e constituir uma família, o casal traz consigo além da herança genética, também a herança gerada pelas experiências financeiras vividas na sua árvore genealógica. O casal tem sempre 4 pais, 8 avós, 16 bisavós, 32 tataravós e assim por diante, que foram passando de geração em geração suas experiências com dinheiro, influenciando a formação dos descendentes na família.

Os aspectos psicológicos são relacionados à formação da personalidade. A personalidade é formada por 3 elementos: ID (a parte inconsciente, dominada pelos princípios do prazer), EGO (a parte consciente, regida pela realidade) e Superego (o representante interno das normas e valores sociais, que tenta controlar os instintos do ID). Há muito que dizer e estudar sobre os três aspectos e sua dinâmica que determina a forma como nos relacionamos com o mundo, mas o que eu quero destacar é que os principais agentes na formação da personalidade são os pais – que atuam na formação das normas e valores – e que a personalidade se forma de vivências conscientes e inconscientes.

Os aspectos sócio-culturais são relacionados com outras variáveis como a história do povo, o momento sócio-econômico do país e da região em que se vive. Por exemplo, em países que passaram por guerras como a Alemanha, as pessoas tendem a lidar com dinheiro de forma bem rígida devido à escassez pela qual passaram. Os americanos estimulam o jovem a ser independente desde cedo para ficar milionário até os 30 anos, o que acelera toda a economia. Os judeus historicamente poupam e aplicam bem o seu dinheiro, ensinando desde cedo as novas gerações a importância de poupar. E no Brasil, como em todos os países latinos, os bens são associados ao sucesso, e gastar ou exibir o patrimônio é uma forma de mostrar sucesso. Um outro fator sócio-cultural muito importante é a educação financeira. Como foi que você aprendeu a lidar com dinheiro? Infelizmente no nosso país, isso é uma daquelas coisas que não se ensina na escola. A educação formal não prepara o indivíduo para lidar com suas finanças.

Imaginem a seguinte situação para ilustrar a atuação destes aspectos sobre uma decisão de gasto: passeando pela rua você vê uma vitrine e uma promoção qualquer, de uma mercadoria na qual você nem estava pensando naquele momento. O preço parece bom (o cartaz diz que o desconto é incrível!!), e você já queria mesmo aquilo no passado, mas não está com essa necessidade agora. Então os mecanismos do consciente e inconsciente começam a trabalhar. O ID manda uma mensagem lá do inconsciente dizendo “Ah, compra vai, você merece! Você trabalha duro! Merece uma recompensa! E os seus amigos vão ficar impressionados!”. Então vem o Ego na consciência e fala “Bah, mas eu estou meio sem grana, e na verdade nem preciso disso agora”. Aí o superego (que é o representante interno das normas e valores transmitidos pelos pais na formação do indivíduo) vem e define a tomada de decisão. E na imensa maioria das vezes o indivíduo entra na loja e sai com a mercadoria, deixando alguns cheques ou parcelando no cartão de crédito. Essa ‘batalha’ que se trava entre consciente x inconsciente na maioria das vezes nem é percebida.

Ao estimado leitor, pedimos que acompanhe no próximo mês a seqüência e conclusão desta matéria. Entendendo o mecanismo e de como funciona esta dinâmica da decisão de gastar. Agradecemos ao economista Jairo Köhn, por sua colaboração, Deus abençoe a todos e até a próxima.